Alapini Ipẹkun Oyé Balbino Daniel de Paula
Embora não exista uma documentação precisa de como o culto a Egúngún chegou ao Brasil (os registros oficiais datam a partir de 1910), as histórias remontam ao início do século dezenove, "entre os negros escravizados estavam reis, rainhas, princesas e também sacerdotes que trouxeram para cá todo o conhecimento litúrgico do culto", ou seja, os rituais são praticados há pelo menos 200 anos.
O primeiro terreiro foi o de Vera Cruz, ali mesmo em Itaparica. Ainda que não existam documentos formais, sabe-se, por meio das memórias orais, que foi fundado por volta de 1820, tio Serafim e um senhor chamado Fulô eram os responsáveis por esta casa. Logo após o terreiro do Mocambo foi fundado por Marcos Theodoro Pimentel (Marcos "o velho"), um negro que comprou a sua própria alforria e já no fim da vida fez uma viagem à Lagos, em África, na companhia de seu filho Marcos Cardoso Pimentel (Marcos "o filho"). De lá trouxeram o assentamento de Babá Olokotun, considerado Olori Egún, cabeça de todos Egúngún, aquele que está à frente e responde por todos. Também foram trazidos os assentamentos Babá Bakabaká, o primeiro Egùngùn africano a pisar em terras brasileiras, e Babá Agboulá. Mas foi no terreiro da Encarnação, fundado por volta de 1840 e comandado por João Dois Metros, que Babá Agboulá teria sido evocado pela primeira vez. Em torno de 1850, o terreiro do Tuntun – Ilê Olokotun abriu as portas, na época era comandado por Marcos Cardoso Pimentel e se tornou um reduto de africanos e seus descendentes. Manoel Antônio Daniel de Paula era um prestigiado Ojé nesta casa, mais tarde, em 1934, seus filhos Olegário, Pedro e Eduardo fundariam o Omo Ilê Agboulá.
O Tuntun é o único desses terreiros inaugurais que continua em exercício ainda hoje. Os mais antigos sucederam uns aos outros e, de certa forma, se confluíram no Omo Ilê Agboulá. Quando o terreiro da Vera Cruz fechou, Fulô – que era o líder da época – confiou o assentamento de Bakabaká aos irmãos Daniel de Paula. Por sua vez, Marcos "o filho" fez o mesmo com o assentamento de Babá Olokotun. Da mesma maneira, João da Boa Fama, da Encarnação, entregou o assentamento de Babá Agboulá. A base de toda a ancestralidade e a origem do culto à Egúngún ficou nas mãos dos três irmãos, assim como a responsabilidade de continuar com essa prática de fé e resistência.